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@flix_n_dawn
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Língua inglesa
Gênero: Drama
Diretor: Kornél Mundruczó
Introdução:
Pieces of a Woman é um drama canadense-americano de 2020 dirigido por Kornél Mundruczó e escrito por Kata Wéber. Esta é a adaptação cinematográfica da peça teatral homônima de Mundruczó e Wéber (2018). Teve sua estreia mundial em 4 de setembro de 2020, no 77º Festival Internacional de Cinema de Veneza, onde Kerby ganhou a Copa Volpi de Melhor Atriz. Kerby também foi indicada ao Oscar, ao Globo de Ouro, ao prêmio da Academia Britânica de Cinema e Televisão, ao Critic's Choice Award e ao Screen Actors Guild por sua atuação fenomenal no filme.
Quadro, pontuação e configuração
A história gira em torno de um jovem casal Martha e Sean, que está esperando o primeiro filho. O filme começa com Sean no quadro em seu dia no canteiro de obras da ponte, em 17 de setembro. Ele sai mais cedo e vai direto para o escritório da esposa. Martha cortando o bolo e sorrindo timidamente durante o chá de bebê oferecido pelas colegas de escritório. Em seguida, o casal vai a uma concessionária de automóveis (Chris), que por acaso é marido da irmã de Martha (Anita). Lá eles conhecem a mãe de Martha (Elizabeth), que compra uma minivan para o casal. Aquela cena em que todos os membros da família estão presentes sinaliza uma relação familiar peculiar. Elizabeth menospreza Sean enquanto a parede fria entre Martha e sua irmã (Anita) não podia ser ignorada. Em casa, o casal conversa casualmente até que Martha começa a sentir a contração. A seguir está a cena de parto domiciliar de 23 minutos que, devo dizer, é a cena de abertura mais intensa, estressante, devastadora e muito dolorosa, quase inacessível, que vi nos últimos anos.
O trabalho da câmera é impecável, especialmente a tomada fechada durante a cena do parto. A cinematografia, desde as belas imagens de ver a criança pela primeira vez até a perda esmagadora, está perfeitamente enquadrada. Percebo que Benjamin Loeb atirou nas costas de Sean em vez de em seu rosto durante todas as cenas comoventes, enquanto frequentemente capturava a emoção de Martha em fotos de perto. Embora a maioria dos filmes com drama intenso tenha uma trilha sonora igualmente intensa, Howard Shore desperta as emoções do público por meio da trilha pianíssima. Às vezes é quase inaudível, por isso é aconselhável usar um fone de ouvido se você estiver prestando atenção especial a esse aspecto. O suave solo de piano é melancólico tornando a cena emocional ainda mais angustiante. Um estilo distinto na dinâmica da partitura pode ser percebido sempre que Martha está caminhando ou visitando lugares, pois a música ambiente é tocada mais alto nesses momentos.
Personagens e atuações
Shia LaBeouf, interpretando Sean, está ganhando dinheiro com um emprego de operário em uma empresa de construção de pontes. Ele tem uma personalidade abalada, um passado sombrio e está sóbrio há mais de 6 anos. LaBeouf mostrou um desempenho perfeito ao retratar seu personagem e lidar com sua dinâmica. A felicidade sem palavras ao colocar os olhos em Yvette (bebê) pela primeira vez, a agonia por não saber a causa da morte do bebê, o desejo ardente de sentir o carinho de Martha novamente, o choro atormentador na ponte e a auto-aversão durante o acordo final de Elizabeth são palpáveis. Durante suas horas mais sombrias, o quadro mostra suas costas em vez de seu rosto, não porque LaBeouf não pudesse fazer uma cena tão emocionante, mas é a maneira de diferenciar a maneira de o homem e a mulher lidarem com o desespero. Assim como o homem normalmente esconde suas lágrimas, o rosto de Sean também está escondido para o público.
Martha (Vanessa Kirby), é uma mulher de carreira que veio de uma família de classe média. Ela é despreocupada e forte, mas desenvolveu remorso em relação à mãe e à irmã. O desempenho de Kirby foi simplesmente de tirar o fôlego. Naquela única cena, como ela geme, chora, xinga, grita e mostra confusão é feita de forma brutal e crua. Ela ensaia a personalidade de Martha como uma mulher devastada, mas resiliente, irritada, mas enfática, forte, mas quebrada. Ela exemplifica uma mulher que sofre de trauma pós-parto com a maior honestidade.
Elizabeth Weiss (Ellen Burstyn), uma senhora idosa abastada em estágio inicial de demência, mostra descaradamente sua antipatia pelo genro. Sendo uma atriz veterana, Burstyn mostra a internalização superior de sua personagem. Devo elogiar aquele monólogo surpreendente enquanto ela narra dolorosamente seu passado enquanto convence desesperadamente Martha a se defender e fazer justiça à morte do bebê. O resto do elenco teve papéis mínimos, mas é capaz de entregar as performances exigidas deles.
Outra atuação excepcional do casal aconteceu no dia 13 de janeiro. Quando o casal está à beira do relacionamento, Sean tenta ter um momento íntimo com Martha. Embora Martha não tenha recusado explicitamente, suas ações falam o contrário. Assim, manifesta-se agressão sexual que leva ao abuso físico. Essa cena é perfeitamente enquadrada e atuada com precisão.
Roteiro, Diálogo e Direção
A narrativa é apresentada através de 8 datas significativas, cada abertura com a ponte que Sean está construindo. A cena de abertura é apresentada com uma narrativa visual surpreendente. É feito de forma impecável que o público sinta a dor insuportável de Martha durante a contração, chore de alegria ao ver o bebê e fique frenético quando o bebê ficar azul. No entanto, a cena de abertura é tão marcante que o resto do filme parece ladeira abaixo. Assim como está dividido em datas diferentes, o enredo parece fragmentado e o enredo é inconsistente. Em alguns momentos, o público fazia perguntas sobre como e por que as coisas aconteceram (por exemplo, como Suzzane e Sean acabaram tendo casos extraconjugais). O roteiro investe tanto na caracterização de Martha que alguns detalhes são negligenciados. O clímax é um pouco apressado e a transição dos acontecimentos é áspera e incoerente. Os diálogos são bem escritos e brilhantemente executados, porém, por falta de alguns detalhes, acabaram sendo superficiais.
Entendo que o diretor e o escritor tiveram uma história parecida no passado, mas acho que o enredo é um pouco ambicioso. Tenta abordar a síndrome pós-parto, o desespero pela perda de um filho, a violência doméstica, o relacionamento extraconjugal e o enfrentamento do processo, mas o último tema não é tratado adequadamente no filme. Também acho algumas cenas extremamente lentas e longas (como pegar e cultivar as sementes da maçã). Poderia ter sido melhor se Weber investisse em outros detalhes tão necessários, como focar no precedente do drama do tribunal. Se alguma vez Mundruczó planejou usar a maçã como simbolismo, devo dizer que não deu certo. A ponte como analogia do relacionamento do casal é inteligente. Apesar das deficiências na trama, Mundruczó ainda é capaz de produzir uma representação honesta de uma família lutando contra a angústia, a raiva e a tristeza para se desapegar e seguir em frente.
Conclusão
Este filme faz você ver e sentir a dor insuportável de perder um filho por meio de performances convincentes, enquadramentos realistas, pontuações comoventes, diálogos contundentes, caracterização sólida e direção inteligente. Como Sushmita Sen (Miss Universo 1994) disse que ser mãe é a essência de ser mulher, não consigo imaginar a dor de ter esse sentimento por apenas um segundo e perdê-lo segundos depois. Pieces of a Woman é uma representação lúcida de uma mulher despedaçada e sua busca para se tornar inteira novamente.
By @flix_n_dawn
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